quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Tabela de Munsell

Há muitos anos atrás quando inicei os meus estudos nas artes tive que fazer um exercício prático que consistia em criar uma tabela quadriculada em que partia de uma cor qualquer e à qual ia juntando pequenas quantidades de preto, de cada vez que juntava tinta preta pintava um quadrado da minha tabela. No final tinha, mais ou menos, um estudo do comportamento de uma cor com preto. Digo mais ou menos, porque na teoria o exercício era entendido, mas prática, estar a calcular pequenas percentagens iguais de guache preto que devia juntar à cor original, de forma a ter uma coerência no aumento do preto, era complicado. E a cor original? Se era composta tinha que calcular a quantidade suficiente que chegasse para o exercício todo, e se não me falha a memória acho que fiz com laranja, porque ter que ir fazer mais tinta a meio do exercício era o risco de não acertar mais no tom. Mas foi um exercício estimulante e acho que pela primeira vez começei a pensar mais na cor.
Anos mais tarde no começo da minha vida profissional deparava-me com o problema comum, saber qual a percentagem de CMYK de uma determinada cor de um original impresso. Com o conta-fios ia ver qual a trama das cores, mas pela falta de experiência a maior parte das vezes não conseguia perceber muito bem qual a percentagem correcta. Então recorria a um livro de apoio da empresa, melhor que o catálogo de Pantones, nesse livro por cada página existia a mesma quadrícula do meu exercício de pintura, mas neste caso impresso em off-set e com o mesmo princípio, ver a diferença de tonalidade de uma cor à medida que se aumenta ou diminui uma percentagem. Além das páginas com as cores CMY com o Preto, tem as páginas com as combinações possíveis das cores CMYK. Este livro ainda hoje é um excelente apoio de trabalho e ao longo destes anos tem servido para me tirar muitas dúvidas quando analiso um original impresso.

«Sobre a cor

No caso da cor-pigmento, uma cor é considerada pura se a concentração da substância-pigmento no meio que a contém for de 100%. Qualquer mistura com outro pigmento produzirá uma cor que não será reconhecida como a primeira, a menos que seja o branco a cor adicionada. Neste caso, é possível a construção de uma escala de tons para uma mesma cor – que vai da chamada cor saturada ao branco – correspondendo a concentrações da substância-pigmento de 100% até 0% à medida que se introduz criteriosamente mais branco à mistura. Os valores desta escala são chamados croma ou saturação, enquanto que o matiz é a qualidade que se reconhece na cor independentemente da saturação, que é a qualidade de ser vermelho, laranja, amarelo, verde, etc. Em termos de cor-luz o matiz é a percepção do comprimento de onda, ao passo que o croma é a percepção da razão entre a intensidade da luz no comprimento de onda em questão e o nível de branco do espectro.
Em 1898 o pintor norte-americano Albert J. Munsell criou um sistema de cores juntando um certo número de cromas que foram dispostos numa sequência de modo que parecessem igualmente espaçados. Em seguida escureceu cada um deles com uma pequena quantidade de preto, dando origem assim a um novo conjunto de tons muito parecidos com os anteriores, mas dando a impressão de terem menos luz. E assim prosseguiu, acrescentando à última sequência sempre uma mesma quantidade de preto, até atingir o escuro total. Com isto, cada matiz tornou-se perceptivamente comensurável através, de uma escala matricial de n cromas por m valores de luminância. Um elemento desta escala de luminância – uma escala na qual a energia luminosa é corrigida para compensar a variação da sensibilidade do olho com o comprimento de onda – foi chamado por Munsell de valor, simplesmente. Os pintores se referem a estes tons na progressão do escurecimento como uma escala de rebaixamento da cor. Os atlas modernos de cores baseados no sistema de Munsell, bastante difundidos entre pintores, trazem cerca de 60 matizes igualmente espaçados na gama visível, cada qual com 10 valores de croma por 9 valores de luminância, perfazendo um total de 5400 tons. Ainda que a metodologia de Munsell tivesse uma componente empírica bastante acentuada, o seu resultado foi de tal modo cartesiano que se evidenciava um sistema legítimo de ordenação das cores segundo a percepção. Munsell representa o equilíbrio da intuição com o conhecimento e a convivência possível da arte com a ciência.»


Fig. - Página de Munsell para o comprimento de onda de 550 nm

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